Ela se sentia
linda. Tirava inúmeras fotos de si mesma, mas sabia que mesmo em dias bons não
se pode negar que calmarias vêm acompanhadas de momentos ruins. Ela percebia
que estava chegando e não falava para ninguém. – É uma onda, depois passa. Não
é a primeira, muito menos a ultima – afirmava a si mesma
Estava cada vez
mais perto. Percebeu que a lua mudava. Uma alegria repentina, uma vontade de
ficar junto, de abraçar, de chorar, de sentar e ver o sol se pondo em quanto
olha as formigas voltando para o ‘ninho’. Ele adorava essa parte, se
aproveitava e deveria mesmo afinal, depois só Deus sabe o que aconteceria. Ela
estava entre a loucura e a normalidade e o sorriso não saia do rosto, por
enquanto. – Que tem pra comer? Tô com fome – perguntava ela milhares de vezes
por dia
A lua mudou e
isso aumentava a tensão. Tudo irritava, nada permanecia inteiro ou intacto, o
choro vinha, a raiva saia. Queria quebrar tudo e às vezes só sorria. As
mordidas e os gritos eram inevitáveis, assim como as inúmeras lagrimas
– Tá perto, né? - Perguntava ele
– O que? – Ela
indagava prestes a matá-lo
– Você sabe...
– Já te disse
que você é um porre...? Que tem pra comer? Tô com fome
A cada ciclo de
lua, a paciência diminuía e os machucados ficavam mais profundos. Ela não
ligava. Olhava para a lua e sentia a dor, ela se transformará numa fera doente.
Ele sempre cuidava dela e agüentava cada mordida e pontapé intercalados com as
mais sinceras declarações além das inúmeras perguntas e promessas que ela o
obrigava a responder e prometer. Algumas vezes havia possíveis momentos de
amor, em outros ciclos não. Mesmo assim ele ficava ao lado dela esperando
qualquer sinal de ataque ou de trégua.
Ela sentia os
seios fartos, o corpo cheio e as curvas bem formadas. Ele adorava não se
importava com os outros detalhes. O fato de poder passear naquele corpo o
curava e ajudava a ambos passarem por aqueles momentos.
–To com fome!
Quero batata frita, pizza, pastel, lasanha! Meu Deus, lasanha!! – ela repetia
impaciente.
– De novo?!
Bora comprar – concordava ele, sabendo que aquilo ajudava.
A comida era
uma das poucas coisas que a acalmava e cada dentada doía nele. Ela quase não
mastigava e virava praticamente uma maquina de engolir.
– Você vai
passar mal se comer tão rápido assim. Mastiga! – Alertava ele
– Enjoado!!
– Tô querendo
cuidar de você, depois cê fica passando mal ae...
– Aham..!
Enjoo! – falava ela todas as vezes, mesmo sabendo que era verdade.
Em casa, Ela
tinha vontade de mutilar-se com as próprias unhas e não tinha medo de falar
isso. Eram inúmeras pontadas na cabeça e mais umas dores tão intensas que
chegava a afirmar que estava parindo. Em meio a isso ela ainda achava espaço
para manhar e gritar. – Qualquer dia desses te esfolo vivo!! Ouviu? Na verdade.
Acho que não te quero mais não. – falava, mesmo sabendo que aquilo ia doer
depois. Pensava que aquele jogo de hormônios devia ser um castigo, o corpo
dizendo algo como “ele não presta. Fez você passar por isso de novo. Larga ele
e fica com um que não resista a nós e te faça ‘mulher’!”. Mesmo assim ela
falava. Era dessas que não guardam nada dentro da cabeça e jogam tudo no
ventilador.
Ela gostava
dele, sabia que ele era um dos poucos que compreendiam aqueles momentos. Sabia
que ele a entendia, não como ela desejava e exigia, porém compreendia. De vez
em quando se importava e queria saber como ele reconhecia. Era incrível como
ele havia percebido detalhes imperceptíveis a ela mesma, como não se importava
com nenhum fluido e continuava a amando.
Ela sentia que
estava passando. Que a fome já estava mais para doces, que a paciência pouca já
havia voltado. A lua havia mudado. E já dava para ficar em paz. Pelo menos nas
duas luas seguintes.
[...]
Ela se olhava
no espelho e sentia-se linda. Tirava inúmeras fotos de si mesma... – É uma
onda, depois passa. Não é a primeira, muito menos a ultima – afirmava a si
mesma