Bem vindo ao pedaço de realidade

sábado, 29 de dezembro de 2012

Ela e eles


Ela passou, os viu e ficou hipnotizada. Eles se beijavam com tanto fervor e carinho que ela não conseguia entender como aquilo acontecia. A impressão era que eles deviam estar ali a horas. Talvez até décadas! Muitos passavam e não percebiam a cena. Alguns desviavam, olhando para os smartphones, ou simplesmente perdidos em seus pensamentos e problemas. Apesar de tudo eles continuavam ali. Parados numa calçada qualquer, de uma esquina qualquer, em frente a uma casa qualquer, num dia extremamente especial. Ela não lembrava ou imaginava. Foi embora.
Estava cansada demais até para pensar, porem ao fechar os olhos a cena vinha nítida em sua mente. Por que aquele casal tinha a abalado daquela forma? Talvez fossem as lembranças cutucando o presente ou os desejos atordoando e confundindo a mente. Realmente. Talvez fosse só um simples devaneio. E se não fosse? Parou de refletir sobre o assunto. O sono foi mais forte.
Cuida, caramba! Estamos atrasados!
–Pombas! Me deixa em paz! Quer ir, vai!! Tão simples...
–Simples é você me dizer isso depois que já estou uma hora atrasado. Qualquer dia desses te deixo e num digo nem bye bye!
Era mais uma briga. Mais uma vez eles estavam por um fio. Eles se amavam e ninguém sabia o quanto aquilo doía. Ela era inconstante, estava sempre a um segundo de explodir o mundo e a um minuto de reconstruí-lo com flores. No começo ele reagia bem a essas situações, sempre a levantava com carinho, calma e paciência. Ela tentava resistir, mas quando menos esperava já estava nos braços dele fazendo-o jurar que não a deixaria.
A rotina era macabra. As brigas constantes acabaram com a paciência e amor lutava bravamente. Coitado.
Acordou num susto. Ainda estava completamente atordoada, mas ao focar nas horas percebeu o quanto devia correr. Estava definitivamente atrasada. Correu o mais que podia e menos de dez minutos depois já estava na porta esperando um ônibus. Ela tinha um carro, mas gostava de pegar carona ou pagar por ela, pois assim podia observar da janela a vida e sonhar um pouco. Vivia por instantes a vida das pessoas que lhe chamavam a atenção. Tentava imaginar diálogos, cenas, pessoas, dramas e o que mais conseguisse. Ela só não vivia a sua. Era sozinha e desiludida. Tinha alguns poucos amigos e não deixava transparecer a ninguém sua tristeza. Para alguns dizia ter escolhido viver sozinha como um leopardo e às vezes até acreditava nisso, mas as lembranças eram cruéis. Logo ela lembrava o real motivo e soltava um riso amarelo.
Foi roubada de seus pensamentos quando já estava bem perto do trabalho. Sentiu que estava sendo observada. Olhou para todos os lados a procura, sentiu um calafrio e encontrou. Tomou um susto e não conseguiu conter as lagrima. Virou o rosto. Era realmente ele? Por que ele estava ali? Por que reaparecer depois de tanto tempo? – pensava.
 Ele veio em sua direção e ela foi tomada pelo desespero. O que iria fazer? Correr desesperadamente sem rumo? Não deu tempo de agir ele sentou-se ao seu lado e perguntou:
– Você lembra o que comemorávamos na data de ontem?
Ela continuava muda. Havia sido pega de surpresa e estava paralisada, pálida.
– Você não lembra, né? Tá que faz tempo, mas, carambas, até eu lembrei! – demorou alguns segundos pensando nas próximas palavras a serem ditas-, Como você consegue ser tão insensível? Por que você... Por quê?
Ela não aguentou. Levantou-se enxugando as ultimas lagrimas, fez sinal de parada e desceu. Não conseguiu olhar pra trás, mas sabia que ele a observava pela janela. Com certeza chorando. Era isso!! – pensava-, Por isso!! O nosso aniversario – chorou.
Estava enganada em partes. Estava certa ao lembrar-se do aniversario. No dia anterior eles fariam 15 anos juntos se ela não tivesse terminado tudo antes que completassem bodas de aço. Porém estava realmente enganada ao crer que ele havia deixado escapar a chance de por tudo em pratos limpos. Ele havia descido, mas ela só percebeu quando ele já estava a segurando com firmeza.
– Se você acha que vou engolir esse seu silencio de novo, você está louca. Não vou deixar você destruir nossas vidas. Não vou! Ainda dá tempo. Por favor, volta pra mim. Dá uma chance pra si mesma, poxa! Larga de ser egoísta!! Eu não vou largar do seu pé. Eu não vou e sei o que devo dizer para você voltar!
– E o que você tem pra dizer que me fará mudar de idéia assim tão rápido?
– Quer sair pra comer? – falou com o sorriso mais lindo no rosto
– Idiota! – ela não acreditava no que tinha ouvido e não segurou o riso. Riu o mais alto que pode. Ele sabia o que aquilo significava e a abraçou

Aline Azoubel

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Vôo



 Como malabares nas mãos do saltimbanco, a vida se desenrola, acontecimentos pairam no ar, e num instante de magia o que não tem asa pode voar, sonhar, fazer sonhar.
  O saltimbanco sorri. Quem será este alegre sonhador? O pierrot.
Hora hora, Pierrot, feliz?
Sim, sim. -Ele havia encontrado a colombina que sempre quis.
  Não como um instante de magia ele a faz sonhar, mas como um espetáculo de luzes, sonhos, realidade e encantos que todo dia faz concretizar.


Lucas Lindoso

sábado, 22 de dezembro de 2012

Desabafo XXXVI

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.


Eu te amo - Chico Buarque

sábado, 15 de dezembro de 2012

Desabafo XXXV


Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso...
Românticos são lindos
Românticos são limpos
E pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha
E sem juízo...
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos
Vão pedir perdão
Que passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo
De outra desilusão...
Romântico
É uma espécie em extinção!
Romântico
É uma espécie em extinção!
Românticos são poucos
Românticos são loucos
Desvairados
Que querem ser o outro
Que pensam que o outro
É o paraíso...
Românticos são lindos
Românticos são limpos
E pirados
Que choram com baladas
Que amam sem vergonha
E sem juízo...
São tipos populares
Que vivem pelos bares
E mesmo certos
Vão pedir perdão
Que passam a noite em claro
Conhecem o gosto raro
De amar sem medo
De outra desilusão...
Romântico
É uma espécie em extinção!
Romântico
É uma espécie em extinção!
Românticos são poucos
Românticos são loucos
Como eu!
Românticos são loucos
Românticos são poucos
Como eu! Como eu!


Vander Lee - Românticos

Para pensar um pouco



Hoje eu ia postar mais uma letra de música. Uma música nada haver com essa, mas sei lá. Esse clipe me tomou as palavras e pensamentos...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Desabafo XXXIV


Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim
Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí
Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar

Meu mundo caiu - Maysa

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Parar


É serio. Não dá.
O desespero começa a me tomar.
Minha cabeça está a rodar.
Não quero mais pensar!
Não consigo mais me concentrar.
A imagem me toma o tempo e o...
Quero parar.
Parar. Parar de tentar
De ser, de penar
Quero correr,
Fugir,
Sumir.
Quero acabar.
Acabar com essa sensação
Que quer me matar

terça-feira, 31 de julho de 2012

Desabafo XXXIII

Os seus olhos claros
O pôr-do-sol
A lua cheia
O aquário
O seu chão macio
O vento
A brisa
O ar
O arrepio
Os seus olhos claros
O pôr-do-sol
A lua cheia
O aquário
Sua voz veludo
A sombra
O som do mar
Molhando tudo
Lua
Buraco negro
Eu e você
Eu e você
Eu e você
Lua
De manhã cedo
Eu e você
Eu e você
Eu e você


Ana Canãs -  Aquário

sábado, 30 de junho de 2012

O mar


Apresentaram-lhe o mar.
A lua no céu brilhava intensamente.
Ela viu as ondas quebrarem e tentou correr,
Seguraram-lhe com força e a fizeram enfrentar o novo medo.
Ela olhou as ondas
Uma
Duas
Três
Milhares delas.
Apaixonou-se.
Não queria mais sair de lá.
Levaram-lhe pra casa a força...

Hoje ela olha o mar.
Com medo?
Talvez, mas...
Não é o mesmo medo.
Ela tem vontade de se jogar,
No entanto tem medo de se perder na imensidão de seus pensamentos

Aline Acazoubelo

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Desabafo XXXII

Now and then I think of when we were together
Like when you said you felt so happy you could die
Told myself that you were right for me
But felt so lonely in your company
But that was love and it's an ache I still remember
You can get addicted to a certain kind of sadness
Like resignation to the end, always the end
So, when we found that we could not make sense
Well, you said that we would still be friends
But I'll admit that I was glad that it was over
But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough
No, you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need, that though
Now you're just somebody that I used to know
Now you're just somebody that I used to know
Now you're just somebody that I used to know
Now and then I think of all the times you screwed me over
But had me believing it was always something that I'd done
But I don't wanna live that way, reading into every word you say
You said that you could let it go
And I wouldn't catch you hung up on somebody that you used to know
But you didn't have to cut me off
Make out like it never happened and that we were nothing
And I don't even need your love
But you treat me like a stranger and that feels so rough
No, you didn't have to stoop so low
Have your friends collect your records and then change your number
I guess that I don't need, that though
Now you're just somebody that I used to know
Somebody, I used to know
Somebody, now you're just somebody that I used to know
Somebody, I used to know
Somebody, now you're just somebody that I used to know
I used to know
That I used to know
I used to know
Somebody

Somebody that I used to know( feat. Kimbra) - Gotye

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Desabafo XXXI



Se avexe não...
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.
Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas
.
Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.
Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa
Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...
Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar.

Ô coisa boa é namorar,
Ô coisa boa é namorar.

A natureza das coisas - Santanna

sábado, 16 de junho de 2012

O que se faz?

O que se faz quando você está tão perdido em seus pensamentos que o mundo parece ser um devaneio apenas?
O que se faz quando você tem uma idéia , começa a escrever, alguém chega e faz esqueceres tudo?
O que se faz quando tudo parece não valer mais a pena?
O que se faz quando idéias lhe faltam?
O que se faz quando os sonhos parecem infantis demais até para serem imaginados?
O que se faz quando não se sabe mais o que fazer e dizer?
O que se faz quando não se sabe mais como continuar?
O que se faz?
O que?
Faz-se?

sábado, 2 de junho de 2012

Eterno


Era mais um dia de sol. Um sol escaldante e lindo. O silencio se rompia apenas com o sacolejar das árvores e com perguntas.  Perguntas tão simples. Diria ate comuns, mas um assunto movediço e...
-Como assim o primeiro filme foi Os Muppets?! Que sem sentido!! - ela ria enquanto mexia o suco
-Nunca devia ter te contado. - o tom de irritação era evidente - Tu falas demais, sabia? Num sei pra quem puxastes assim tão...
-Adivinha ae, mãe?! Adivinha!! - Ela continuava rindo e zombando
Contudo a mãe não sabia como continuar. Tinha coisas a dizer e tanto a esquecer. Tinha medo das criticas, das lembranças e principalmente... Da saudade. Aquele assunto ainda era uma ferida aberta e mexer só a deixava mais triste e desolada. O que faria agora? A menina estava crescida, cheia de opinião e duvidas. Ela realmente não havia degenerado.
Ela sabia que a mãe não estava gostando de ser bombardeada daquele jeito. Sabia que aquele não era o modo mais apropriado e aquele era o momento exato pra acabar com algumas duvidas, mas compreendeu. Já estava acostumada com aquele tipo de situação. A mãe falava muito e vivia contando historias. Vez ou outra ficava calada. Quieta. Entretanto seus olhos mostravam que ela não estava ali. Estava mais longe. Perdida em seus pensamentos.
O silencio durou. Não sei ao certo se realmente existiu, só sei que aquele momento parecia eterno. Eterno pra quem esperava e pra quem tanto pensava.